O que é Biologia cultural? O que Pokémon, Zootopia e outros têm a ver com isso?



É quase certo que você ainda não ouviu falar sobre Biologia Cultural, pois além de ser um termo novo, ainda não é comentado nas grandes mídias. Mas é certo que você já tenha visto ao menos um ou dois filmes/ séries/ desenhos inspirados em animais/ plantas, ou até mesmo com inspirações ecológicas de preservação ambiental.
O grande foco da Bio cultural é nos mostrar que muitos dos materiais que nós consumimos possuem influências da vida real, ou seja, se inspiram na vida real para criar personagens fictícios.
Alguns deles conseguimos associar facilmente.

Legenda: Filmes: A Fuga das galinhas; Bee Movie- A história de uma abelha; O pequeno Stuart Little.





Outros nem passam pela cabeça que tenham alguma associação com seres reais.

Legenda: Eevee; Charmander e Gayrados. Personagens de Pokémon.

Então, mesmo que você não se considere um expert em Biologia, você já sabe muito mais do que imagina. Em grande parte não só pelo estudo formal, mas pelas ações desses personagens que fizeram e/ou fazem parte de nossas vidas.
Falando ainda sobre Pokémon...
E se eu te disser que um dos personagens favoritos, Charmander, é na verdade uma salamandra que vive na China e Japão?
Legenda: Charmander e suas evoluções

Isso mesmo, este personagem foi inspirado em um anfíbio vivente, de nome científico Andrias davidianus, conhecido como Salamandra Gigante. Esse animal possui cauda compondo 59% do comprimento de seu corpo. São as maiores salamandras vivas, com adultos atingindo um comprimento total superior a 100 cm.
Legenda: Salamandra Gigante

Bem diferente do Pokémon capaz de produzir chamas, não é mesmo? Mas parece um pouco claro que a Andrias davidianus por si só não atrairia grande público. Isso é meio verdade, pois na TV não faria sucesso... Já no mundo real, essa espécie está criticamente ameaçada, correndo risco de extinção da natureza, por ser considerada uma iguaria e ser consumida em grande escala.
Mas por que os personagens, mesmo que inspirados, são tão diferentes dos seres da vida real? Isso acontece, pois a literatura, música, filmes e entre outros possuem a chamada “licença poética”. Isso significa que não é necessário reproduzir algum material de maneira idêntica. Possibilitando a utilização da imaginação/ criação. Alguns personagens adquirem certas características humanas (animais antropomórficos), e nem estou falando só do fato de usarem roupas.  É comum que os personagens quadrúpedes (que andam sobre quatro patas) atuem como bípedes assim como nós humanos. Se expressem através de falas e percam algumas de suas características.
Legenda: Filmes: Zootopia; Vida de Inseto.

Exemplo disso é que o personagem Nick Wilde (Zootopia) não apresenta garras no filme, enquanto as Raposas reais têm as garras como uma das principais características. Já uma das mudanças no filme Vida de Inseto é o fato de a formiga rainha possuir tamanho menor que as demais formigas, quando na vida real estas são bem mais desenvolvidas que todos os outros integrantes do formigueiro.


Associando Zootopia a Pokémon, o que esses dois personagens tem em comum?
Legenda: Nick Wilde (Zootopia); Eevee (Pokemón)


Ambos são inspirados em raposas! Nick Wilde (personagem de Zootopia) é baseado no animal de nome científico Vulpes vulpes, mais conhecido como Raposa Vermelha. Enquanto Eeeve (personagem de Pokémon) é inspirada na raposa Vulpes zerda, mais conhecida como Feneco. Uma das diferenças entre estas duas espécies é que o animal Vulpes vulpes é a maior espécie do gênero, enquanto Vulpes zerda é a menor de todas as raposas.
Legenda: Nick Wilde; Raposa Vermelha;  Eevee; Feneco

Se você é da turma que prefere livros a filmes de animação/ desenhos, ou simplesmente gosta dos dois, você já viu, ou ouviu falar sobre este autor:
Legenda: Livro: A chave do tamanho.

Nesta obra literária em específico, o autor descreve sobre alguns conceitos da Biologia como:
Seleção Natural
Que mundo este, santo Deus! – murmurou, muito atenta a tudo quanto se passava ao redor. É o tal 'mundo biológico' de quem tanto o Visconde falava, bem diferente do 'mundo humano'. Diz ele que aqui quem governa não é de nenhum governo como soldados, juízes e cadeias. Quem governa é uma invisível Lei Natural. E que lei natural é essa? Simplesmente a Lei do Quem Pode Mais. Ninguém neste mundinho procura saber se o outro tem ou não razão. Não existe a palavra justiça. A natureza só quer saber de uma coisa: quem pode mais. O que pode mais tem o que quer, até o momento em que apareça outro que possa ainda mais e lhe come tudo. E por que essa maldade? O Visconde diz que é por causa duma tal Seleção Natural, a coisa mais sem coração do mundo mas que sempre acerta, pois obriga todas as criaturas a irem se aperfeiçoando. 'Ah, você está parado, não se aperfeiçoa, não é?' Diz a Seleção para um bichinho bobo. 'Pois então leve a breca'. E para não levar a breca, o bichinho trata de inventar toda sorte de defesas e astúcias. (CT, p. 28-9)
Mimetismo
- Com a inteligência ou a astúcia, como fazem tantos insetos deste mundo. O Visconde já me explicou isso muito bem. Uma da melhores defesas, por exemplo, se chama mimetismo
- Mime o quê?
- Tismo. Mi-me-tis-mo. Quer dizer imitação. Uns imitam a cor dos lugares onde moram. Se moram em pedra, imitam a cor da pedra. Se moram em grama, como os gafanhotos, imitam a cor da grama. Por quê? Porque desse modo os inimigos os confundem com a grama. E há os que imitam a forma das folhas das árvores ou dos galhinhos secos.
- Eu já vi um desses – lembrou Juquinha. – O Totó apareceu lá em casa com um galhinho seco na mão. "Que é isto?" me perguntou. Eu olhei e respondi: "É um galhinho seco". Totó riu-se e largou o galhinho no chão – e sabe o que aconteceu? O galhinho começou a andar! Era um bicho pernudo, cascudo, que imitava galho seco.
- Pois é. Estava "mimetando" um galho seco. Mimetismo é isso. Não conhece aquelas borboletas carijós que se sentam nas árvores musguentas e ficam ali quietinhas, tal qual um desses musgos cinzentos? Musgos, não. Líquen. Líquen! O visconde não quer que a gente confunda musgo com líquen. Decore! [...] – Pois é isso. Esses fingimentos são as armas de tais insetos. É a defesa do fraco contra o forte – mas do fraco esperto! (CT, p. 76-7)
Legenda: Exemplo de mimetismo batesiano, larva Spicebush swallowtail.

Em função das características da larva Spicebush swallowtail há a criação da ilusão de que elas, na verdade, são cobras verdes. Fazendo com que predadores a evitem. Esse tipo de mimetismo é chamado de mimetismo batesiano.
Coincidentemente (ou não), são essas larvas que inspiraram o conhecido pokémon Caterpie.

Além de desenhos, filmes e livros, é claro que a música que não poderia ficar de fora da Bio Cultural! Exemplo disso é a música “Xote Ecológico” de Luiz Gonzaga:
Não posso respirar, não posso mais nadar
A terra está morrendo, não dá mais pra plantar
E se plantar não nasce, se nascer não dá
Até pinga da boa é difícil de encontrar (2x)
Cadê a flor que estava aqui?
Poluição comeu
E o peixe que é do mar?
Poluição comeu
E o verde onde é que está?
Poluição comeu
Nem o Chico Mendes sobreviveu
A música aborda a Ecologia Cultural, pois se refere a conteúdos como a poluição de ecossistemas aquáticos, terrestres, assim como a poluição do ar. Além disso, cita Chico Mendes, ativista ambiental brasileiro de extrema importância no cenário mundial.
Todas as informações citadas nesse post evidenciam a importância da Biologia Cultural, e como essas intervenções podem influenciar positivamente em nosso conhecimento. Isso significa que, mesmo não sendo expert, você já conhece muito mais sobre biologia do que pensa!
Gostou desse assunto? Então se liga que esses sites/trabalhos podem ser interessantes para você:

Revista sobre Biologia Cultural ( A Bruxa)

Comentários