Bacteriófagos: Uma Nova Esperança




Imagem: The Deadliest Being on Planet Earth – The Bacteriophage


“Uma guerra vem sendo travada a bilhões de anos, matando trilhões todos os dias enquanto nós nem percebemos. Essa guerra vem sendo travada pelas mais mortais entidades do mundo, os bacteriófagos”

Esse trecho foi retirado do vídeo "The Deadliest Being on Planet Earth – The Bacteriophagedo canal "Kurzgesagt - In a Nutshell", e ele descreve muito bem o que vem acontecendo entre os bacteriófagos e as bactérias.


Os bacteriófagos são vírus, e algumas famílias de bacteriófagos são os vírus dos quais a gente mais entende. É claro que, em uma pandemia viral, falar sobre um vírus mortal não é o melhor dos assuntos. Mas podem ficar tranquilos, os fagos (um apelido para bacteriófagos) até onde se sabe são inofensivos para nós eucariontes, isso por que os bacteriófagos só infectam bactérias. 

Os bacterófagos também são os organismo de maior população que existe, maior do que as próprias bactérias. Estima-se que existe 10 bacteriófagos para cada bactéria, e que exista 10^29 (uma forma "chique" de escrever 1 seguido de 29 zeros, ou 100 octilhões) de bactérias e archeias nos oceanos. Acho que com esse números da para ter uma ideia da quantidade de bacteriófagos que tem no planeta.

Com esse números gigantes de bactérias e bacteriófagos, da para imaginar o verdadeiro genocídio de bactérias que esses vírus promovem, e esse massacre é o que mantém a quantidade de bactérias na natureza em controle. Os fagos, como qualquer outro vírus, necessitam de uma célula para se reproduzir, nesse caso uma bactéria, e depois de utilizarem a bactéria eles produzem uma enzima chamada endolisina, cuja a função é dissolver a parede celular desses microrganismos
(lise celular), abrindo um buraco de dentro pra fora para que eles possam sair. Óbvio que nesse processo a bactéria morre. A sorte é que algumas bactérias conseguem desenvolver uma resistência a esses vírus, pelo menos até os vírus conseguirem desenvolver uma forma de passar por cima dessa resistência, culminando nessa verdadeira guerra microscópica.


Animação representando a reprodução dos bacteriófagos e posteriormente a lise da bactéria.



Uma alternativa aos antibióticos 



As bactérias vão começar a se voltar contra a gente, fica vendo.

Os bacteriófagos foram descobertos independentemente por  Frederick Twort em 1915, e por
Felix d'Hérelle em 1917. Félix dizia que sempre encontrava os fagos nas fezes de pacientes com disenteria pouco antes deles melhorarem. d'Hérelle logo percebeu que em qualquer lugar que tivesse bactérias, os bacteriófagos estavam lá: em esgotos, rios, nas fezes de pacientes. O potencial terapêutico dos bacteriófagos logo foi notado por muitos, porém nessa época também surgiram os antibióticos, sendo o primeiro deles a penicilina, e por esses serem relativamente mais fáceis de serem estudados e de serem aplicados nos pacientes, os bacteriófagos foram descartados como agentes terapêuticos viáveis.

Mas essa aparente vantagem dos antibióticos sobre o tratamento com os bacteriófagos se tornou irrelevante com o surgimento de um novo tipo de bactérias: as superbactérias.




As superbactérias, são microrganismos que desenvolvem uma resistência a maioria dos antibióticos que temos ao nosso dispor. Essa resistência inclusive pode ser passada de bactéria para bactéria através do plasmídio. O uso indiscriminado e o descarte inadequado de antibióticos são alguns dos fatores que levam as bactérias a desenvolverem essa resistência. Com a possibilidade de que os antibióticos não funcionem para sempre, começou a se voltar a atenção novamente para os nossos queridos bacteriófagos. 

Como nós vimos, para o bacteriófago se reproduzir ele precisa promover a lise celular ( dissolver a parede celular), o que mata a bactéria. E por isso os bacteriófagos podem ser usados para o tratamento de algumas infecções bacterianas. Na verdade, eles já são usados em alguns lugares, como a Georgia e a Polônia.  Um dos casos de sucesso da fagoterapia foi de uma jovem de 17 anos que contraiu uma superbactéria no pulmão, e segundo os médicos ela teria menos de 1% de chances de sobreviver a infecção. Foi quando a equipe do hospital concordou em testar um coquetel com diferentes tipos de bacteriófagos. 

Em alguns pontos, o tratamento com bacteriófagos podem ser até melhor do que os antibioticos, como por exemplo: os fagos são extremamente especializados, então um tipo específico de fagos atacam apenas um tipo específico de bactérias, diferentes dos antibióticos que podem matar até mesmo as "boas bactérias" que vivem no nosso intestino. Os fagos também são, a princípio, inofensivos para o nosso corpo, e não causam nenhum dano aos nossos órgãos, como pode acontecer com os antibióticos que causam lesões hepáticas se usados por períodos prolongados.

Apesar de ser bastante promissora, a fagoterapia ainda é experimental e pode apresentar efeitos colaterais como uma resposta imunológica exagerada contra os vírus. É necessário também estabelecer alguns parâmetros para a terapia, como a quantidade de vírus a ser utilizada, o tempo que leva para o tratamento começar a funcionar, entre outros. Para isso é necessário mais pesquisa nessa área.

No geral, os bacteriófagos são inofensivos para nós, e o fato deles serem extremamente especializados e fáceis de se adquirir transforma eles em um ótimo substituto para os antibióticos no tratamento contra as bactérias. Porém, para serem autorizados o uso no publico em geral, precisa-se ter total controle dos parâmetros do tratamento, mas para isso, como no desenvolvimento de qualquer nova intervenção terapêutica, mas pesquisas precisam ser realizadas.


Referências e links interessantes.

Animação completa do bacteriófago infectando a E.coli.

Mine documentário sobre a fagoterapia.

Matéria da Folha de Londrina sobre a fagoterapia.

Artigo sobre os bacteriófagos na natureza.

Artigo sobre vírus no mar

Matéria sobre a menina que sobreviveu a superbactéria graças a fagoterapia.



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